2.9.09

empresas e seus compromissos pelo clima *


O Fórum Amazônia Sustentável, Vale, Instituto Ethos, Jornal Valor Econômico e Globonews lideraram o seminário “Brasil e as Mudanças Climáticas: Oportunidades para uma Economia de Baixo Carbono”, realizado no dia 25 de agosto em São Paulo. O evento reuniu empresários, governo e ONGs para um debate sobre as perspectivas do setor produtivo nacional ante o desafio de estabelecer no país uma economia com menos emissão de gases do efeito estufa que causam o aquecimento global.

Líderes de entidades e empresas debateram compromissos e propostas do Brasil para as discussões da Conferência de Copenhague, em dezembro. Na ocasião, o setor privado lançou uma Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas, onde empresas signatárias se comprometem a realizar inventários de emissões de gases poluentes e criar mecanismos para orientar o desenvolvimento na perspectiva de uma economia de baixo carbono.
O documento também cobra do governo federal o estabelecimento de metas internas de redução de gases estufa e a implementação de políticas públicas para as mudanças climáticas. Entre elas, a publicação de estimativas anuais de emissões capazes de orientar a sociedade na redução dos gases nocivos ao clima e agilidade nos processos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) para facilitar o ingresso de tecnologias limpas no país.

No campo internacional, os líderes pedem que o Brasil retome seu papel de liderança nas negociações de dezembro, em Copenhague, durante a Conferência do Clima – COP 15. Um dos quesitos citados no documento refere-se ao mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação – REDD. O mecanismo prevê recursos para quem reduzir o desmatamento ou ajudar a preservar a floresta com iniciativas de conservação e uso sustentável.

O presidente do Ethos, Ricardo Young, afirmou que "a visão da sociedade está mudando e vem exigindo mais responsabilidade social dos empresários, principalmente na questão das mudanças climáticas”. Para ele, as empresas precisam enquadrar-se no novo modelo econômico que se desenha a partir do cenário climático mundial. Para Young, as mudanças climáticas são um desafio, mas também uma oportunidade de negócios. “Aqueles que agirem de maneira a proteger os recursos naturais e amenizar o aquecimento global estarão anos-luz à frente no mercado”. Para o diretor presidente da Vale, Roger Agnelli, as empresas que não tiverem preocupação ambiental serão cobradas. “Elas terão de pagar essa conta mais à frente”, disse.

“Carta histórica”
Para Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon e membro da Comissão Executiva do Fórum Amazônia Sustentável, o compromisso do setor privado influi de modo decisivo na diplomacia brasileira em relação ao posicionamento do Brasil na COP 15.

“Trata-se de uma carta histórica”, afirmou o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que participou do seminário e prometeu que o Brasil levará para Copenhague metas claras de redução interna em suas emissões.

O embaixador Luiz Figueiredo Machado – principal negociador brasileiro para a discussão das mudanças climáticas na ONU – disse que a atual crise climática requer uma resposta imediata não apenas do Brasil, mas de todo o mundo. Para ele, o processo de revisão mundial sobre os padrões de sustentabilidade está apenas começando.

Apesar do otimismo, o líder do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Rubens Gomes, disse que as mudanças são necessárias para um novo modelo de desenvolvimento com base sustentável, mas que, entre firmar compromisso público e implementar as mudanças, há um grande caminho a percorrer. Para Rubens, a emergência da questão climática requer medidas concretas e a sociedade precisa acompanhar os compromissos assumidos.
*Fórum Amazônia Sustentável
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5.8.09

Um círculo vicioso mortal


Por Leonardo Boff*

Estamos todos sentados em cima de paradigmas civilizacionais e econômicos falidos. É o que nos revela a atual crise global com suas várias vertebrações. Nada de consistente se apresenta como alternativa viável a curto e a médio prazo. Somos passageiros de um avião em vôo cego. O que se oferece, é fazer correções e controles à la Keynes, que, no fundo, são mudanças no sistema mas não do sistema. Mas é este sistema que comparece como insustentável, incapaz de oferecer um horizonte promissor para a humanidade. Por isso, a demanda é por um outro sistema e um outro paradigma de habitar este pequeno, velho, devastado e superpovoado planeta.

É urgente porque o tempo do relógico corre contra nós e temos pouca sabedoria e parco sentido de cooperação.Em razão dos interesses dos poderosos que não fazem o necessário para evitar o fatal, as soluções implementadas mundo afora vão na linha de “mais do mesmo”. Mas isso é absolutamente irracional pois foi esse “mesmo” que levou à crise que poderá evoluir para uma tragédia completa.

Estamos, pois, enredados num círculo vicioso letal. Dois impasses estão à vista, gostem ou não os economistas, “os salvadores” do mundo: um humanitário e outro ecológico. O primeiro é de natureza ética: a consciência planetária, surgida à deriva da globalização, suscita a pergunta: quanto de inumanidade e de crueldade aguenta o espírito humano ao verificar que 20% das pessoas consome 80% de toda a riqueza da Terra, condenando o resto à cruz do desespero, encurralada nos limites da sobrevivência? Esta aceitará o veredito de morte sobre ela? Ela resiste, se indigna e, por fim, se rebelará por instinto de sobrevivência.

O ideal capitalista de crescimento ilimitado num planeta limitado parece não ser mais proponível ou só sob grande violência.O segundo é o limite ecológico. O capitalismo criou a cultura do consumo e do desperdício cujo protótipo é a sociedade norte-americana. Generalizar esta cultura – cálculos foram já feitos – precisar-se-iam de duas ou mais Terras semelhantes à nossa, o que torna o propósito irrealizável. Por outra parte, encostamos nos limites dos recursos e serviços da Terra e os ultrapassamos em 40%. Todas as energias alternativas à fóssil, mantido o atual consumo, atenderia somente 30% da demanda global. Como se depreende, dentro do mesmo modelo, somos um sapo sendo lentamente cozido sem chances de saltar da panela.

Há três propostas criativas: a da economia solidária que não mais se guia pelo objetivo capitalista da maximização do lucro e de sua apropriação individual. A do escambo com as moedas regionais. A terceira é a da biocivilização e da Terra da Boa Esperança, do economista polonês que dirige um centro de pesquisa sobre o Brasil em Paris: Ignacy Sachs. Ela confere centralidade à vida e à natureza, tendo o Brasil como o lugar de sua antecipação. As três são possíveis mas não acumularam ainda força suficiente para ganhar a hegemonia.

Talvez elas nos poderiam salvar. Mas teremos tempo hábil? Bem dizia Gramsci: “o velho não acaba de morrer e o novo custa em nascer”. Não se desmonta uma cultura de um dia para outro. Quem está acostumado a comer bife de filé dificilmente se resignará a comer ovo.

Meu sentimento do mundo diz que vamos ao encontro de uma formidável crise generalizada que nos colocará nos limites da sobrevivência. Chegando a água ao nariz, faremos tudo para nos salvar. Possivelmente seremos todos socialistas, não por ideologia mas por necessidade: os parcos recursos naturais serão repartidos equanimemente entre os humanos e os demais viventes da comunidade de vida.

Santo Agostinho sabiamente ensinou que dois fatores ocasionam em nós grandes transformações: o sofrimento e o amor. Devemos aprender já agora a amar e a sofrer por esta única Casa Comum a fim de que possa ser uma grande Arca de Noé que albergue a todos. Então será, sim, a Terra da Boa Esperança, um sinal de um Jardim do Éden ainda por vir.

* Leonardo Boff é autor de Comer e beber juntos e viver em paz. Vozes 2008
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