26.4.07

pelos povos da floresta

Manoel Silva da Cunha: "o país tem que crescer? Sim. Mas não de qualquer jeito"

Sei bem o quanto tenho escrito sobre a Amazônia, mas agora estou morando aqui, queridos leitores, não consigo resistir! Preciso contar para vocês tudo o que tenho visto nestas terras.

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Aconteceu ontem (25), em Manaus, a abertura do I Seminário "A Importância dos Povos da Floresta no Contexto das Mudanças Climáticas Globais", promovido pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (SDS) do Amazonas. O objetivo do evento, que vai até o dia 27, é promover discussões sobre o aquecimento global entre líderes políticos e comunitários da Amazônia. Como os povos da floresta sentem os efeitos do aquecimento global? O que pensam? Que ações podem ser feitas para minimizar o impacto ambiental?

"Hoje só se fala nisso, governos discutem ações e nós, os povos da floresta, não temos muita oportunidade de dizer o que pensamos sobre o aquecimento global e como ele nos afeta. Agora vão ouvir o que temos a dizer, as nossas preocupações", afirma Manoel Silva da Cunha, presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). Além dele e representando a Aliança dos Povos da Floresta, compareceram ao encontro Jecinaldo Satere Mawé, coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Adilson Vieira, secretário geral do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA). Os três, juntos, são a voz dos povos da Amazônia: representam extrativistas, seringueiros, comunidades ribeirinhas e índios. Entre as lideranças políticas, descatam-se as presenças do governador Eduardo Braga e do secretário da SDS, Virgílio Viana.

"A natureza está falando: se continuar assim, vocês vão se dar mal. O país tem que crescer? Sim. Mas não de qualquer jeito. A construção da hidrelétrica do rio Madeira vai levar energia para São Paulo. Isso vai causar muito impacto aqui, vamos ficar mais pobres duas vezes porque além de não gerar renda para nosso povo, ainda afeta a natureza. Não somos contra o desenvolvimento da economia, mas os impactos ambientais devem ser os menores possíveis, não podemos pensar só no econômico e esquecer do social e do ambiental", continua Manoel.

O governador, por sua vez, atentou para a necessidade de ouvir os povos da amazônia e falou sobre a criação de um fundo para o bolsa-floresta, em que a preservação pode resultar em até U$ 500 anuais para as famílias amazonenses. Além disso, confirmou a criação de um projeto de carboneutralização para as Copas de 2010 e 2014. "Os melhores jogadores de futebol do mundo também serão os melhores jogadores sócio-ambientalitas do planeta".

A sequência do seminário acontece em um barco que, neste momento, navega pelo Rio Negro. Até o final do encontro, deverão surgir ações para minimização de impactos ambientais - pelo bem da Amazônia e de seus povos.

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Save the planet!

10.4.07

a força índígena de São Gabriel da Cachoeira


Reproduzo, na íntegra, a reportagem que fiz para o site Envolverde sobre uma manifestação que, há alguns dias, tive o prazer de acompanhar em São Gabriel da Cachoeira, aqui no Amazonas.
Só digo uma coisa: a persistência, como diria o poeta, é o caminho do êxito. Boa sorte a todos os moradores desta cidade. Logo mais trago outras notícias de lá.

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São Gabriel da Cachoeira cobra segurança a ministro e órgãos de governo
por Karina Miotto

Representantes da população de São Gabriel da Cachoeira, cerca de 900 quilômetros de Manaus, receberam esta semana na maloca da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) a comitiva de Paulo Vannuchi, Ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, para pedir mais segurança na cidade. Além dele e do prefeito Juscelino Altero Gonçalves, estiveram presentes Márcio Pereira, novo presidente da Funai, Ela Wiecko, Procuradora Geral da União, Oscar Argollo, do Conselho Nacional de Justiça e Luiz Varese, do Alto Comissariado das Nações Unidas para refugiados.

Os indígenas relataram problemas enfrentados pelos moradores como estupros, aumento do uso de drogas e álcool, homicídios, suicídios entre os adolescentes e falta de áreas de lazer. Cecília Barbosa Albuquerque, representante das mulheres, destacou os casos de violência doméstica. "Aqui falta delegacia feminina. As mulheres apanham de seus filhos e maridos, que muitas vezes estão bêbados e quando são estupradas e têm coragem de ir a uma delegacia, são obrigadas a ouvir ´mas você usa saia, você provocou!'". Os moradores também pedem um procurador federal e um defensor público.

Ao final da reunião, entregaram a Vanucchi um abaixo-assinado e um dossiê com mais de 200 páginas sobre a violência em São Gabriel da Cachoeira. "Recebo tudo isso com muito compromisso, podem estar certos. Continuem nos cobrando", disse. Márcio Pereira, por sua vez, afirmou que " a Funai, em parceria com outras entidades, vai atuar para coibir violações dos direitos indígenas".

Henrique Velozo Vaz, presidente da Foirn, afirmou que essa não foi a primeira vez que os moradores fizeram estas reivindicações. "E não será a última. Vamos continuar lutando".

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E super obrigada a todos os leitores pelos comentários. Estamos juntos nessa luta.


Save the planet!