15.7.12

Urca, nossa pequena flor silvestre



Ela nasceu quando eu tinha 14 anos. Vira-lata, misturinha boa de pastor alemão com vira. Nasceu bonita, porte médio, nas cores do beagle. Quando paro pra pensar no tempo de vida dela com a gente, me bate um misto de alegria com culpa. Alegria por ter compartilhado com ela momentos lindos, só meus e dela. Culpa por ter saído de casa e de não ter vivido com ela muitas coisas mais, por não a ter levado pra passear tanto quanto eu gostaria. 
A gente ganhou a Urca num momento em que no bairro dos meus pais, Parque São Domingos, em São Paulo, estava virando moda ladrão entrar na casa das pessoas para roubar coisas. Já haviam entrado na nossa umas três vezes. Então a Urca chegou como um pedido de ajuda. Por favor, protege a gente, Urca. Por favor querida, late quando alguma coisa estiver errada. Incrivelmente ela nasceu com um vozeirão que, para quem não a visse, parecia se tratar de um pastor alemão gigante. Coincidência ou não, nunca mais entraram em casa.
Ela gostava de ficar por perto, de brincar com suas bolinhas. Comia de tudo (adorava cenouras, maçãs...). Era cheia de energia. Até seus 18 anos tinha força pra muita coisa. Com 19, adoeceu numa velocidade impressionante e foi definhando rápido, bem rápido. No entanto, sem conseguir ficar direito sobre as 4 patas, por mais de uma vez subiu quietinha 26 degraus de escada para ficar mais perto da família e deitar num de seus cantos favoritos. Uma vez a gente achou ela encalhada na escada, tentando subir. Por mais dores que sentisse, queria andar, correr, brincar, passear. Até que não aguentou mais. Apesar do seu espírito sempre juvenil e companheiro, o corpo não respondia. Parou de andar, de comer, de sorrir. Mas não queria ir embora de jeito nenhum. "Querida, obrigada por tudo, pode partir...". Não partia. Em sua maior agonia, ela ainda lutava, com respiração descompassada, pra permanecer viva, como se tivesse que nos proteger sempre, a qualquer custo.
Choro ao pensar nisso. Nunca antes havia tido uma lição tão forte de companheirismo, a tão falada fidelidade canina. Eu não tinha noção do quanto isso era forte e verdadeiro. Hoje, quando fico mal por meus problemas, me bate um pensamento. "Karina, vai em frente em busca do que você acredita, por maiores que sejam as dificuldades. Olha o exemplo que a Urca te deu". Sem falar, sem ficar revoltada com a gente, sem nunca nos agredir...sempre por perto, amiga, na dela, a Urca acabou dando uma lição de vida pra minha família inteira. Para finalizar este post, compartilho com vocês o que escrevi aos meus pais, minha avó e minha irmã quando soube da partida da nossa querida amiga. 


"Ontem tirei uma carta sobre a Urca. Pedi a Deus pra me falar qualquer coisa sobre ela.
Saiu a carta "coragem", do Osho. Sinto que a Urca viveu e lutou pela vida bravamente, assim como a sementinha que cai na terra escura e que, pra virar planta, precisa de coragem. Essa aura dourada da imagem aí de baixo me faz sentir que foi assim que a Urca voltou para os braços do Criador: envolta em luz.
Essa cachorrinha nos ensinou muita coisa. Pra mim fica a lição da fidelidade, do amor incondicional verdadeiro. A lição do espírito jovem e em busca da felicidade mesmo quando o corpo físico caminha na direção contrária. Mesmo com dores, sem forças nas pernas e depois de dois AVCs a Urca se esforçou pra subir as escadas - e subiu!!!! - e abanou o rabo de alegria. É um exemplo e tanto, não? Pra vida toda.
Valeu mãe, dá um valeu pra vó tb, por vcs terem ficado com ela até o fim do sofrimento dela. Até o momento em que ela conseguiu se libertar. Vcs tb foram prova de amor incondicional e de coragem pra nossa Urquinha, podem ter certeza. Ela foi embora com 19 anos de idade. Se compararmos à idade humana, nossa cachorrinha fez sua passagem aos 133 anos de idade! 
bjos, amo vocês - e viva nossa Urca, exemplo pra vida toda. Alegria no espírito, apesar de tudo e acima de tudo.


Coragem


A semente não pode saber o que lhe vai acontecer, a semente jamais conheceu a flor. E a semente não pode nem mesmo acreditar que traga em si a potencialidade para transformar-se em uma bela flor. Longa é a jornada, e sempre será mais seguro não entrar nessa jornada, porque o percurso é desconhecido, e nada é garantido. Nada pode ser garantido. Mil e uma são as incertezas da jornada, muitos são os imprevistos -- e a semente sente-se em segurança, escondida no interior de um caroço resistente. Ainda assim ela arrisca, esforça-se; desfaz-se da carapaça dura que é a sua segurança, e começa a mover-se. A luta começa no mesmo momento: a batalha com o solo, com as pedras, com a rocha. A semente era muito resistente, mas a plantinha será muito, muito delicada, e os perigos serão muitos.

Não havia perigo para a semente, a semente poderia ter sobrevivido por milênios, mas para a plantinha os perigos são muitos. O brotinho lança-se, porém, ao desconhecido, em direção ao sol, em direção à fonte de luz, sem saber para onde, sem saber por quê. Enorme é a cruz a ser carregada, mas a semente está tomada por um sonho, e segue em frente.

Semelhante é o caminho para o homem. É árduo. Muita coragem será necessária.
Osho Dang Dang Doko Dang Chapter 4

Comentário:
Esta carta mostra uma pequena flor silvestre que enfrentou o desafio das rochas, das pedras em seu caminho, para aflorar à luz do dia. Envolta em brilhante aura de luz dourada, ela exibe a majestade do seu pequenino ser. Sem nenhum constrangimento, equipara-se ao sol mais brilhante.
Quando nos defrontamos com uma situação muito difícil, há sempre uma escolha: podemos ficar repletos de ressentimentos e tentar encontrar alguém ou alguma coisa em que pôr a culpa pelas nossas dificuldades, ou podemos enfrentar o desafio e crescer.
A flor nos mostra o caminho, na medida em que a sua paixão pela vida a conduz para fora da escuridão, para o mundo da luz. Não há nenhum sentido em se lutar contra os desafios da vida, ou tentar evitá-los ou negá-los. Eles estão aí, e se a semente deve transformar-se na flor, precisamos passar por eles. Seja corajoso o bastante para transformar-se na flor que você foi feito para ser".
A Urca foi corajosa o bastante pra ser a flor que veio pra ser.


Save the planet!


Nenhum comentário: