19.10.08

como destruir a amazônia sem sair de casa?

Por João Meirelles Filho *, do Instituto Peabiru

Claro que é culpa da inoperância dos órgãos públicos, que não conseguem controlar desmatamentos, queimadas, e nem a lenha que garante o seu pãozinho de cada dia nas padarias da região e de boa parte do Brasil. Será que a culpa é só daqueles a quem você emprestou seu voto e sua confiança, daqueles a quem você passou procuração para decidir, em seu nome, o que você consome nos supermercados? Ou será este um problema da Nação a que você e eu pertencemos, ou fingimos pertencer.

Como você se sente diante do circo anual quando os chefes da Nação esbravejam ao ver as taxas de desmatamento fora de controle e soltam decretos a torto e a direito, esperando que sejam cumpridos? Você acha que seus chefes realmente levam a sério este assunto? O que eles pensam quando servem seu George (o Bush) um churrasco para na Granja do Torto?

Até quando você vai acreditar nesta novela? Nesta conversa de que medir desmatamento e queimadas serve para alguma coisa? Só serve para dizer o que você já sabe muito bem: a coisa vai muito mal, cada vez pior. Afinal, medir desmatamento e queimada é medir conseqüência e não causa. É como medir a febre do doente; certificar-se de que ele tem mesmo febre e, ir dormir, ir fazer churrasco, nada fazer, esperando, que, se tudo der certo, um dia, o doente, se sobreviver, irá melhorar.

É assim que age o governo que você elegeu, porque, você, cidadão brasileiro não liga a mínima para as causas que provocam desmatamento e queimada. Ou melhor, não está muito interessado em saber que quem causa a destruição da Amazônia é você mesmo, ao comer o seu bifinho de cada dia, o seu churrasquinho de fim de semana, o seu pãozinho de cada dia.

O que efetivamente causa desmatamento? Na Amazônia a resposta é muito clara: a pecuária bovina extensiva, que responde por mais de 3/4 do estrago, e bem depois, muito depois, vem as outras causas, a soja (que cresce rapidamente), a retirada de madeira (que financia as novas derrubadas e pastagens), e muitas outras que, claro, juntas, são terrivelmente devastadoras. Aliás, esta é a história do Brasil. A história da pata do boi. Assim, seus tataravôs engoliram a Mata Atlântica e a Caatinga, e seus pais e você devoram o Cerrado e a Amazônia.

Só se cria boi porque há consumidor de carne. O pecuarista só existe porque ganha mais dinheiro com o boi. Se outra coisa (legal) fosse mais lucrativa, mudaria de ramo. E o pecuarista só cria boi porque há cada vez mais consumidor querendo comer carne, carne barata.

Quem consome a carne da Amazônia é tanto quem mora na região (menos de 10% da produção), como os brasileiros das outras regiões (mais de 80%). A participação das exportações ainda é pequena, inferior a 10%, mesmo se considerar os 600 mil bois vivos que despachamos, sem pagar impostos, para a desabastecida Venezuela e o violento Líbano em guerra.

Hoje, na Amazônia, é possível produzir carne muito barata porque o alto preço social e ambiental não é considerado. O pecuarista raciocina: por que se preocupar em conservar as matas, as águas, as populações tradicionais e as milenares culturas? Por que seguir a lei trabalhista, pagar impostos, legalizar as terras, se não há fiscalização?

O Brasil decidiu (e você participa desta decisão como eleitor e consumidor) transferir 1/3 de seu rebanho para a Amazônia. Na década de 1.960 eram 1 milhão de bois na região, hoje, menos de meio século depois, são 75 milhões. Mais que em toda a Europa! Há muita gente envolvida, não são apenas aqueles 21 mil médios e grandes pecuaristas (com propriedades acima de 500 hectares). Há também 400 mil pequenos pecuaristas, em sua maior parte economicamente inviáveis. Resultado: em menos de 40 anos, somente com a pecuária, destruímos mais de 70 milhões de hectares do mais complexo e desconhecido conjunto de florestas tropicais do Planeta. É pouco, você dirá, menos de 20% da região, ou, se preferir, meros 8% do território do Brasil.

No entanto, esta superfície é superior à soma das áreas do estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro somados. Destruídos. Para que? Para você comer picanha, picadinho e croquete mais baratos. Será que alguém realmente se beneficiou com isto? Será que os filhos dos pecuaristas realmente terão uma vida melhor porque estão na Amazônia desmatada? Dificilmente. A pecuária não consegue garantir nem a rentabilidade de uma aplicação trivial em um banco, como a poupança ou um CDB. É o pior negócio que existe, só sobrevive porque é ilegal.

De cada três bifinhos que você come, um vem da Amazônia. Você não pergunta para o seu Zé açougueiro nem para o seu Diniz do Pão de Açúcar ou para o presidente do Carrefour, ou para outro dono de supermercado de onde vem a carne. Você também não pergunta de onde vem a soja, o arroz, e tantos outros produtos. Enfim, como consumidor você sabe muito pouco sobre o que você consome, qual o seu impacto no planeta, quantos quilos de carbono, de água, de suor foram gastos para produzir o seu luxo do momento. Seu fornecedor também não se interessa por educá-lo, informá-lo, orientá-lo. Para ele responsabilidade social é comprar meia dúzia de cestinhas e docinhos de comunidades "em alto risco social" e ganhar comenda e prêmio de associações empresariais.

E se você efetivamente perguntasse ao dono do estabelecimento? E se você fosse às últimas conseqüências, abandonasse o produto na prateleira? E se, de agora em diante, você fosse 100% coerente em relação a sua responsabilidade como cidadão, cidadão comedor das Amazônias? Das Matas Atlânticas? Você deixaria de comprar a carne que vem com gosto de Amazônia queimada, devastada e escravizada? A carne que saiu do norte de Mato Grosso, do sul do Pará, do Marajó, do centro de Rondônia, do sul do Acre e do Amazonas? Você deixaria de comer a Amazônia? Você seria capaz de abandonar seu antigo fornecedor de alimentos se ele não levasse a sério a sua pergunta: de onde vem esta carne? Ou melhor, esta carne vem da Amazônia?

Se sua resposta é: tanto faz, então sugiro que desligue a televisão, vá curtir o seu quente verão de aquecimento global e tome tudo isto como conversa para boi dormir. Se, entretanto, achar que vale a pena seguir adiante, então, tome uma atitude. Pilote com mais atenção o seu carrinho de compras. A cada passo que você dá no supermercado, é você quem decide o futuro do planeta (e não o dono do reluzente estabelecimento, ou o diretor de marketing da empresa, ou o gênio da agência de propaganda que ainda insiste em usar crianças ou em desrespeitar as mulheres para vender mais).

Se você quer entregar algo da Amazônia a você mesmo, ou a seus descendentes, deixe este olhar bovino de lado, abandone seu comportamento de consumidor passivo. O mundo todo já percebeu que o Brasil está transformando a Amazônia em um imenso curral. É isto que você quer? Você acha que o mundo vai mesmo ficar de braços cruzados vendo o Brasil fazer churrasquinho da Amazônia? Pois então, vamos agir, enquanto é tempo, antes que sejamos obrigados, envergonhados, a sofrer sanções internacionais hoje inimagináveis. Vamos enviar o boi de volta para o zoológico e para o presépio, de onde jamais deveria ter saído.

* João Meirelles Filho é autor do (excelente) Livro de Ouro da Amazônia (3a edição, Ediouro, Rio de Janeiro 2.004)

Save the planet!

17.10.08

quem banca a destruição da amazônia?


A mesa redonda “Amazônia e Sustentabilidade”, que aconteceu nesta quinta-feira (16), durante o Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade, foi marcada por fortes opiniões de seus participantes, frases de efeito e informações que devem levar muita gente a se questionar sobre hábitos pessoais de consumo – o principal financiador da destruição da floresta.

Participaram da mesa João Meirelles, diretor do Instituto Peabiru e autor do “Livro de Ouro da Amazônia”, da editora Ediouro; Caio Magri, assessor de políticas públicas do Instituto Ethos e um dos principais articuladores do Fórum Amazônia Sustentável e Nelson Cabral, gerente setorial de segurança, meio ambiente e saúde da Petrobras. O jornalista Adalberto Marcondes, presidente do Instituto Envolverde, foi o moderador.

Se João Meirelles bateu na tecla dos prejuízos causados pela pecuária, Caio Magri explicou a importância do Fórum Amazônia Sustentável e Nelson Cabral falou sobre ações sócio-ambientais da Petrobras, o que os três discursos tiveram em comum foi a abordagem da responsabilidade de cada cidadão, como consumidor, na destruição da maior floresta tropical do planeta.

João Meirelles vem de uma família com dez gerações de pecuaristas. É um profundo conhecedor do assunto e, como ele mesmo diz, hoje está bem é “do outro lado da cerca”. Ele afirmou que 75 milhões de hectares de floresta já sucumbiram sob as patas bovinas. “A culpa não é do boi, é do pecuarista”, faz questão de frisar. Se na Europa a média é de 3,5 cabeças de gado por hectare, na Amazônia é 0,5 – uma proporção completamente descabida.

De acordo com os participantes, a pecuária bovina gera diversos problemas, entre eles trabalho escravo, uso de enormes quantidades de água, queimadas e desmatamento. É o principal vetor de destruição da Amazônia, seguido pela indústria da soja e a extração ilegal de madeira.

Aproximadamente 20% do território da floresta já foi destruído e pesquisas apontam que se o ritmo continuar nesta velocidade, em menos de 30 anos não haverá mais Amazônia e a geração atual terá sido a última a conhecer a floresta como ela ainda é.

Hábitos de consumo
Meirelles e Magri afirmam que o maior mercado consumidor de carne bovina da Amazônia é o próprio Brasil, sendo que grande parte deste montante vai parar no prato de moradores do estado de São Paulo.

Se o consumo cresce, o desmatamento também cresce. É preciso quebrar este ciclo. Por isso, a conscientização e a adoção de hábitos de consumo mais conscientes é fundamental. “O consumidor não pergunta de onde vem a carne, os produtores não sabem responder e ninguém sabe nada. Precisamos nos posicionar e perguntar ao supermercado de onde vêm nossos produtos”.

Caio lembrou que na quarta-feira (15), durante o seminário Conexões Sustentáveis: São Paulo – Amazônia, as três maiores redes de supermercado do país, compostas por Wal-Mart, Carrefour e Grupo Pão de Açúcar, aceitaram ser pressionados pelos consumidores, pois trabalhariam para evitar a compra de produtos de origem ilegal da Amazônia. “A sustentabilidade é a última possibilidade de vida do homem neste planeta. Estamos falando de perpetuação da espécie humana. Ou dormimos o sono eterno ou começamos a pensar em como enfrentar estas questões construindo opções sustentáveis”. Nelson complementa afirmando que ter conhecimento é fundamental. “Precisamos ensinar bem e disseminar, pois o que aprendemos deve ser compartilhado por todos. Precisamos agir”.

É preciso se posicionar e fazer alguma coisa. Não daqui dez anos, como lembra Caio, mas já. “A cada três mordidas no seu bifinho, uma vem da Amazônia. Estamos entregando a floresta nas mãos dos maiores bandidos deste país porque ainda tem gente que come carne que vem de lá. Não adianta dizer ´Ah como eu amo a Amazônia!´, mas continuar comendo churrasco”, afirma João.

Como diz Marina Silva, precisamos aprender com nossos erros. A Mata Atlântica foi destruída pela pecuária e dela hoje restam apenas 7%. Permitiremos que o mesmo aconteça com a Amazônia?
* Escrevi esta matéria para o site Envolverde.
Save the planet!

16.10.08

conexões sustentáveis: sp x amazônia


Nos dias 14 e 15 de outubro o seminário "Conexões Sustentáves: São Paulo <-> Amazônia", que aconteceu na capital paulistana, abordou diversos temas relativos à Amazônia por meio de palestrantes para lá de interessantes e extremamente comprometidos com a preservação da região e com os povos da floresta.

Vi por lá Adalberto Veríssimo, do Imazon; Adriana Ramos, do ISA; Rubens Gomes, do GTA; Magnólio de Oliveira, do projeto Saúde e Alegria; Andé Muggiati e Adriana Imparato, do Greenpeace. Todos eles - e outras pessoas também - deram excelentes palestras sobre a região Amazônica.

O objetivo do seminário, organizado pelo Movimento Nossa São Paulo e pelo Fórum Amazônia Sustentável, foi colocar em pauta a responsabilidade de cada cidadão, especilmente os paulistanos, na destruição que vem ocorrendo na Amazônia. A cidade de São Paulo é hoje o maior e mais importante centro consumidor, processador e distribuidor de produtos oriundos da floresta.

Ao contrário do que muita gente pensa, foi explicado que grande parte da madeira da floresta não é exportada, mas consumida dentro do próprio país, em regiões do sul e sudeste, com destaque especial à cidade de São Paulo.

A força que pode mudar a direção da exploração incontrolada e irresponsável da floresta está, também, nas mãos dos consumidores. Como disseram por lá, hábito de consumo é uma atitude política. Vamos pedir certificação da madeira que consumimos. Vamos pedir ao açougue e ao supermercado que garantam a origem da carne vendida, assegurando de ela não veio de pastos onde antes havia floresta amazônica. Vamos atrás da soja que chega até nós e pedir a mesma informação a produtores. É nosso direito e nosso dever. Na dúvida, melhor não consumir.

Sabe por que?

Porque somos nós os financiadores indiretos mais poderosos do mundo na destruição da maior floresta do nosso planeta: se diminuirmos o consumo, diminuirá a produção e diminuirá a destruição.

POLÍTICA

O ministro Minc apareceu, apoiou a iniciativa e disse que os maiores desmatadores serão punidos, que as hidrelétricas do rio Madeira só serão construídas se estiverem 100% de acordo com relatórios ambientais e sociais (já não está, mas parece que o governo não desiste da megalomania), que o dinheiro doado pela Noruega para o Fundo Amazônia será usado com transparência e bla blá blá.
Os candidatos à prefeitura de São Paulo Kassab e Suplicy, não compareceram pessoalmente para assinar um pacto em que se comprometeriam a fiscalizar produtos vindos da Amazônia e a não consumir nada de origem ilegal ou duvidosa. Mandaram seus representantes.

Marina Silva também deu o ar de sua graça e afirmou: "se tivéssemos feito esta reunião 150 anos atrás, talvez poderíamos ter evitado a destruição da Mata Atlântica, que hoje só resta 7%. Isso nos coloca na posição que realmente podemos fazer algo pela Amazônia".

E, por fim, parabenizei pessoalmente André Baniwa, vice-prefeito eleito de São Gabriel da Cachoeira (AM). "Tenho certeza que os povos indígenas, com seus conhecimentos tradicionais, podem ajudar a criar uma relação sustentável entre a sociedade e a Amazônia".

EMPRESAS

Wal-Mart, Grupo Pão de Açucar e outras empresas se comprometeram a participar do pacto pela compra de produtos legais vindos da floresta.

*

Valeu pela quantidade de informações que recebemos.
Valeu pelas pessoas incrivelmente engajadas.
Valeu pelas iniciativas e comprometimentos. Ainda que os atuais candidatos não tenham comparecido para assinar o pacto, seus representantes o fizeram.
Ongs e sociedade civil ficarão de olho.

Save the planet!

11.10.08

o Eco-Repórter-Eco (só) Notícias nasceu!


Devido ao pedido dos leitores que o blog apresentasse constantemente notícias fresquinhas sobre meio ambiente, resolvi criar o Eco-Repórter-Eco (só) Notícias. Nele, de uma forma simples, resumida e bem informativa, você vai poder ler tudo o que está sendo falado sobre a questão ambiental . Ideal para, em pouco tempo, já ficar por dentro do que está acontecendo.

Enquanto isso, aqui no Eco-Repórter-Eco, você continuará contando com minhas sugestões, críticas e opiniões pessoais sobre tudo o que acontece em nossa pátria amada chamada Mãe Terra. Então, por aqui, as postagens continuarão com o mesmo estilo, focada em assuntos mais pontuais. E lá, você terá notícias quentinhas sempre que quiser.

Passar de um para o outro é muito fácil - é só clicar no link à direita, em ambos os blogs, onde está escrito "De cá pra lá".

Foi o jeito que encontrei para poder continuar falando o que bem entendo no Eco-Repórter-Eco ao mesmo tempo em que consigo informar de forma mais abrangente sobre o que anda acontecendo por aí.

Espero que goste.

Vou colocar uma enquete aí do lado para saber sua opinião. Se puder participar....agradeço!!! Senão, fique à vontade para deixar seu comentário na própria postagem.
Quero sempre melhorar o site - agora, os sites. Por mim, por você, pelo planeta.
Obrigada a todos!
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