29.9.06

vamos votar conscientemente!


Essa imagem, da SOS Mata Atlântica, combinou bem com o que nós, brasileiros, estamos vivendo agora. É época de eleição (o descompromissado do Lula não apareceu em nenhum debate...que vergonhoso) e está em nossas mãos decidir quem vai ocupar uma cadeirinha em Brasília.
Para votarmos, precisamos conhecer as propostas de nossos candidatos. Acredito que a maioria não vai atrás de saber o que esses caras estão inventando, sonhando ou propondo sem devaneios por aí.
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O site O Eco fez 4 reportagens sobre propostas em meio ambiente dos candidatos à presidência: Lula, Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam Buarque. Clique no link e fique sabendo as coerências e incoerências de cada partido quando o assunto é natureza.
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A SOS Mata Atlântica tb faz a sua parte com "Esse Meio é Nosso Ambiente", ação de seus voluntários junto à população para ajudar o cidadão a refletir sobre o voto consciente. Às 10h de sábado (30), no Masp (pra quem não sabe, fica na Paulista), a ong dará às pessoas a oportunidade de conhecer a Agenda Ambiental Voluntária, ferramenta que ajuda, por meio de um teste, a descobrir o posicionamento dos candidatos (antes e durante os mandatos políticos) frente a questões relacionadas à sustentabilidade, biodiversidade, educação, qualidade de vida, mudanças climáticas e água, entre outras coisas.
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Na dúvida do voto em deputado federal, dá uma olhadinha no site do Partido Verde e veja se alguém lhe interessa. De acordo com a legislação partidária, eles precisam de 5 milhões de votos para continuarem existindo. Senão, serão extintos. Pelo menos o PV demostra preocupação com o meio ambiente. Se conseguiriam colocar ou não suas propostas em prática, é uma incógnita. Mas se a bandeira deles é pelo verde, a minha também é.
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Washington Novaes em artigo no Estadão da semana passada:
"Em qual país é esta eleição? É inquietante observar que, a poucos dias das eleições para presidente da República, governos dos Estados, parlamentos federais e estaduais, as mal chamadas questões ambientais - as que dizem respeito ao meio físico, concreto, em que vivemos - continuam, como nos pleitos anteriores, tão distantes das discussões. Qual é a estratégia brasileira para enfrentar mudanças climáticas? Não está na pauta. Qual é a situação nacional num modelo global que já consome mais recursos e serviços naturais do que são repostos pelo planeta? Quando a discussão ameaça aproximar-se do concreto - como é o caso da questão do abastecimento nacional de energia elétrica -, quase invariavelmente toma logo um desvio em que se tenta qualificar a preocupação com a conservação de recursos como 'obstáculo ao desenvolvimento' ".
Bom voto SUPER CONSCIENTE a todos nós.

Save the planet!

19.9.06

quer navegar no tietê?

Rio Tietê, nos bons tempos
Sexta (22) é o dia do rio Tietê. Como forma de chamar a atenção da sociedade para a importância da recuperação do rio, a SOS Mata Atlântica promove uma série de atividades no domingo (24).
De vários pontos da Bacia do Alto Tietê barcos levarão seus tripulantes a um passeio pelo rio. O encontro será às 10h30 na Ponte das Bandeiras.
Uma novidade nas comemorações de 2006: remadores que há 20 anos participaram das primeiras ações em defesa do rio estarão lá, remando novamente. (Será que vai algum destes aí da foto?)
"Estas manifestações são um marco da mobilização social voltada a uma causa ambiental e coletiva. Nós, que diariamente fazemos ações em prol da sua recuperação, convidamos a todos para a mobilização em homenagem ao rio e às pessoas que lutam por sua melhoria. É também a oportunidade de exigirmos a continuidade do Projeto Tietê, na etapa final da sua segunda fase. Com o apoio da população, o dia dedicado ao rio será marcado por mais significado e força", afirma Cesar Pegoraro, educador ambiental do Núcleo União Pró-Tietê.
Boa sorte, pessoal. Bom passeio!
E parabéns ao Tietê. Lindo rio, hoje doente. Amanhã, quem sabe, diferente. É o que desejamos!
:)
Save the planet!

15.9.06

feliz primavera!


Daqui a pouquinho começa a primavera. Para comemorar, selecionei três textos bem diferentes pra você: um grandão do querido Drummond, que alegra e inspira. Outro de Fernando Pessoa, pequeno e simples, para a gente se interiorizar com uma interrogação de leve na cabeça e, por fim, um do Dr. Celso Charuri, médico e filósofo, para refletir sobre o quanto a natureza pode nos ensinar.
Aproveite os dias lindos da primavera, mesmo que não seja nem maio, nem abril...
:)
Eu sei que este post agigantou, mas você pode pular o texto que não quiser ler. E feliz primavera para a gente! Ela começa sábado, 23 de setembro.

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Dias lindos
Carlos Drummond de Andrade

Não basta sentir a chegada dos dias lindos. É necessário proclamar: "Os dias ficaram lindos." Acontece em abril, nessa curva do mês que descamba para a segunda metade.
Os boletins meteorológicos não se lembraram de anunciá-lo em linguagem especial.
Nenhuma autoridade, munida de organismo publicitário, tirou partido do acontecimento.
Discretos, silenciosos, chegaram os dias lindos.

E aboliram, sem providências drásticas, o estatuto do calor. A temperatura ficou amena, conduzindo à revisão do vestuário.

Protege-se um tudo-nada o corpo, que vivia por aí exposto e suado, bufando contra os excessos da natureza.

Sob esse mínimo de agasalho, a pele recebe a visita dos dias lindos.

A cor. Redescobrimos o azul correto, o azul azul, que há meses se despedaçara em manchas cinzentas no branco sujo do espaço.

O azul reconstituiu-se na luz filtrada, decantada, que lava também os matizes empobrecidos das coisas naturais e das fabricadas.

A cor é mais cor, na pureza deste ar que ousa desafiar os vapores, emanações e fuligens da era tecnológica. E o raio de sol benevolente, pousando no objeto, tem alguma coisa de carícia.
O ar. Ficou mais leve, ou nós é que nos tornamos menos pesados, movendo-nos com desembaraço, quando, antes, andar era uma tarefa dividida entre o sacrifício e o tédio? Tornou-se quase voluptuoso andar pelo gosto de andar, captando os sinais inconfundíveis da presença dos dias lindos.
Foi certamente num dia com estes que Cecília Meireles escreveu: "A doçura maior da vida flui na luz do sol, quando se está em silêncio. Até os urubus são belos, no largo círculo dos dias sossegados.
"Porque a primeira conseqüência da combinação de azul e leveza do ar é o sossego que baixa sobre nosso estoque de problemas. Eles não deixam de existir. Mas fica mais fácil carregá-los. Então, é preciso fazer justiça aos dias lindos, oferecer-lhes nossa gratidão.

Será egoísmo curti-los na moita, deixando de comentar com os amigos e até com desconhecidos, que por acaso ainda não perceberam o raro presente de abril: "Repare como o dia está lindo." Não precisa botar ênfase na exclamação.

Pode até fazê-la baixinho, como quem transmite boato e não deseja comprometer-se com a segurança nacional. Mesmo assim, a afirmação pega. Não só o dia fica mais lindo, como também o ouvinte, quem sabe se distraído ou de lenta percepção sensorial, ganha a chance de descobri-lo igualmente.

Descobre e passa adiante a informação. A reação em cadeia pode contribuir para amenizar um tanto o que eu chamo de desconcerto do mundo. De onde se conclui: deixar de lado, mesmo por instantes, o peso dos acontecimentos mundiais, trágicos, esmagadores, para degustar a finura da atmosfera e a limpidez das imagens recortadas na luz, é um passo dado para reduzir o desconcerto do mundo, na medida em que a boa disposição de espírito de cada um pode servir de prefácio, ou rascunho de prefácio, à pacificação, ou relativa pacificação, dos povos e seus dominadores.

Em vez de alienação, portanto, o prazer dos dias lindos é terapia indireta. Pode ser que o desconhecido lhe responda com um palavrão, desses em moda na sociedade mais fina. Não faz mal. Não se ofenda. Ele descarregou sobre a sua observação amical o azedume que ameaçava corroê-lo no íntimo. Livre desse fel, talvez se habilite a olhar também para o céu e a descobrir mesmo certa beleza esvoaçante do urubu. De qualquer modo, foi avisado.

Já sabe que o que estava perdendo: a consciência de que certos dias de abril e maio são mais lindos do que os outros dias em geral, e nos integram num conjunto harmonioso, em que somos ao mesmo tempo ar, luz, suavidade e gente.

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Se digo que as flores sorriem...
Fernando Pessoa

Se às vezes digo que as flores sorriem e seu disser que os rios cantam, não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores e canto no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos. A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem, sacrifico-me às vezes à sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me.
Porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza, porque há homens que não percebem a sua linguagem, por ela não ser linguagem nenhuma.

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Outono
Dr. Celso Charuri

No outono, quando os frutos abandonam as árvores que lhe fizeram nascer e jogam–se ao chão...
No outono, quando as folhas verdes perdem o seu viço e param de alimentar, com seu metabolismo de néctar etéreo das radiações solares a abandonam...

No outono, quando os pássaros migram para novas paragens, colocando o silêncio e a tristeza em torno das árvores que lhe acolheram durante as boas estações somente para lhes ouvir o canto alegre e festivo, e sem mais nada pedir...

No outono, quando a própria terra, que se beneficiou de sua sombra fresca, torna-se árida, negando alimentação...

No outono, quando todos aqueles que a admiram e aproveitam a sua beleza também a abandonam, a árvore mantém-se viva e serena. Não desanima e aguarda. Conhece a sua missão e não se desespera. Não odeia e nem se vinga. Sabe que à humilhação sobrevirá a exaltação, e, por isso, aguarda com soberba coragem o inverno que haverá de cobri-la com nuvens cinzentas e lamacentas de humilhação, numa tentativa final de destruí-la.

Mas na sua seiva corre o Espírito do Eterno, ela disso sabe, tem consciência. E, numa atitude passiva e resignada, entende a efemeridade dos tempos.

Então, passados estes, vê nascer em seu distante ramo um broto, como que lhe anunciando as recompensas por tamanha coragem. É a primavera que surge.

E, novamente, a terra volta a lhe dar alimento, as folhas retornam com seu verde de esperança, os pássaros em seus galhos fazendo morada, as flores e frutos a lhe enfeitar e, finalmente, as pessoas a lhe admirar.

É a glória, conquanto que passageira, mas por demais nobre para ser desprezada.

Nas estações de outono, saiba imitar a árvore.
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Save the planet!