13.9.09

aquecimento global: não vê quem não quer *


* por Carlos Rittl, especialista em questões climáticas

Ainda há os que neguem, os que duvidem e os que acham aquecimento global uma grande bobagem. Mas há muita gente que acredite nisso, que considere este fator o maior desafio ambiental e de desenvolvimeto deste século. Eu estou entre eles e, por esta razão, estou trabalhando com o tema. Alguns fatos abaixo.

O próprio Governo Bush, que durante anos financiou pesquisas para provar que o aquecimento global era provocado por ciclos naturais e manter suas políticas favorecendo o imenso lobby do petróleo que existe nos Estados Unidos reconheceu, em 2005 ,que as mudanças climáticas eram conseqüência de atividades humanas. Antes do último relatório do IPCC, lançado em 2007, afirmava de forma categórica que as mudanças climáticas são provocadas pelo aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.

O IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - não é exatamente um grupo fechado. São 1500 cientistas, de várias especialidades, do mundo inteiro. Isso não representa extamante um clube hermético, alheio à diversidade de opiniões. Neste seleto grupo, há pelo menos 12 cientistas brasileiros como autores principais de algum dos temas de um dos grupos de trabalho do Painel, incluindo cientistas do INPA, INPE, USP, UFRJ, EMBRAPA, UNICAMP, FIOCRUZ, dentre outros.

Todos os cientistas autores principais ou co-autores são conhecidos, têm seus nomes citados como colaboradores dos relatórios, além de sua filiação institucional. Além disso, também compõem o IPCC representantes de todos os governos que fazem parte das Nações Unidas ou da Organização Meteorológica Mundial. Seus relatórios de avaliação são construídos a partir do último conhecimento sobre os temas, ao longo de um processo cuidadoso de consulta e redação que leva vários anos.

O último relatório demorou 6 anos para ser aprovado pelo painel por consenso. E antes de publicados, os relatórios são abertos para consulta e revisão de cientistas do mundo inteiro. O cadastramento é livre. Eu recebi um dos volumes do último relatório do IPCC, publicado em 2007, ainda em 2006, após cadastramento no processo de revisão. Outros nesta lista poderão fazer o mesmo na edição do próximo relatório (AR5), caso tenham questionamento sobre seu conteúdo.

Alguns dados. Hoje em dia morrem por ano mais de 300,000 pessoas por conseqüência de eventos climáticos extremos em todo o mundo. E 300 milhões são afetadas por estes eventos. Isto não foi o IPCC quem disse. São dados mundiais organizados em relatório do Global Humanitarian Forum, cujo presidente é o Ex-Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Anan. As projeções são de que até 2030, cerca de 500 mil pessoas morram por ano, por conta da intensificação e maior freqüência destes eventos.

O relatório Stern, publicado em 2006, mostrou que as mudanças climáticas poderiam provocar uma perda de 20% do PIB mundial em algumas décadas. Eu considero estes dados no mínimo capazes de provocar alguma reflexão sobre de que dimensão de problema estamos falando, mas não são apenas órganizações que tratam de questões humanitárias que se preocupam com o tema. O setor privado também se preocupa. As seguradoras são um exemplo disso. A partir de 2005, com perdas estimadas em US$ 60 bilhões, começaram a contabilizar as mudanças climáticas, desenvolver estudos e orientar seus negócios e produtos a partir de cenários de mudanças climáticas.

Em 2009, estima-se que o Brasil tenha prejuízos de R$ 50 bilhões por causa de extremos climáticos, como os observados no sul, norte e nordeste. São apenas alguns fatos e números. Podem não convencer os céticos, mas há muita gente convicta de que o problema é sério e que devemos, cada um de nós, fazer algo a respeito. Eu estou nesta lista.

Save the planet!

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