9.3.09

manaus é a capital do caos no brasil

blog do Altino Machado
Por Edilson Martins
O jornal Folha de S.Paulo divulgou recentemente que o Ministério Publico Federal no Amazonas está investigando o hotel de selva Ariaú Amazon Towers, localizado a 60 km de Manaus, e praticamente no coração das Anavilhanas, o segundo maior arquipélago de água doce do mundo.
Acusação: o famoso Ariaú, que hospeda os homens mais ricos e poderosos do mundo, estaria
despejando lixo e queimando resíduos tóxicos nas margens e no interior do rio Negro, em área de preservação ambiental.
“Noticiazinha fuleira”, pensei comigo. Na verdade, banal para quem conhece a violência generalizada contra o vale do maior rio do mundo. E um dos mais belos, pode-se acrescentar, sem se exceder no ufanismo.
Em verdade, em verdade me apropriei dessa banalidade -falo da notícia da agressão ao rio-, para retornar a um assunto que se vai banalizando na Amazônia: destruição dos últimos sítios, vamos dizer refúgios, das cidades, dos espaços humanos da região.
No caso agora, a cidade de Manaus, onde o governador, Eduardo Braga, apresenta-se como modelo de respeito à Amazônia. Chegou inclusive a criar o Bolsa Floresta. Acredite.
Tira a preguiça do mato
No entorno do Conjunto Residencial Murici havia uma generosa mata, no Parque 10, ao lado da recém construída Assembléia Legislativa. Nessa mata, dominada por buritizais, açaizeiros, e até castanheiras, afora outras espécies não menos importantes, viviam saracuras, preguiças, papagaios, sabiás, e muitas iguanas. As sabiás, eram às dezenas. Fui testemunha de todo esse paraíso. Tudo isso recentemente.
Uma área dessas, um refúgio desses, no coração de uma cidade, dominada por pequenos e grandes riachos, onde passa, vale lembrar, o igarapé Bindá, de grata e saudosa memória para quem o conheceu no passado, seria defendida com armas na mão, em muitas culturas.
Por muito menos, o ecologista Augusto Ruschi, em pleno governo militar, impediu que se destruísse algo parecido, o de Santa Teresa, no Espírito Santo. Mobilizou primeiro o município, depois a cidade de Vitória, e finalmente o país. Tudo para defender uma única espécie - o beija-flor-azul-de-rabo-branco.
A pá de cal
No Conjunto Murici até recentemente, recentemente digo, há dois, três meses, basta ouvir os moradores do local, em alguns tanques, pequenas piscinas de fundo de quintal, teve início uma ocorrência curiosa. Curiosa não, dolorosa. Muitos lagartos, principalmente iguanas, começaram a invadir esses espaços, em busca da sobrevivência.
Dava pena ver a sofreguidão, de espécies raras, buscando em desespero uma saída, condenadas a desaparecer por falta de habitat, pela insensibilidade dos homens, pela insensibilidade urbana. Acasaladas, ou sozinhas, essas espécies estavam vivendo a mesma experiência da presença do homem em seus nichos, em seus últimos santuários. E, no entanto, essa violência, é uma faca de dois legumes. Já estamos pagando por esses crimes.
O processo, sim, foi um processo, teve início com a construção de prédios às margens do Bindá, há dois, três anos, quase no encontro com a rua Recife. Vejam bem: pelo que se sabe, não se pode construir às margens de nascentes, de igarapés, no coração de uma cidade como Manaus, desmatada, agredida por todos e por tudo. Há leis, e leis federais, impedindo tais absurdos.
E, no entanto, o golpe final, a pá de cal que se joga no corpo que se despede, foi a construção recente de uma garagem de carros para o prédio da Assembléia Legislativa. Aí o desmatamento se fez definitivo.
O curioso, não deixa de ser curioso, senão dramático, a revelação dessa violência foi recebida com muito enfado. Desagrado. Houve até revolta. Acusaram os denunciantes de leviandade, de se meter aonde não deve, de excesso de zelo, e por aí afora. Pensei comigo, lendo a reação dessa gente: é, parte desse povo é diferente, pode-se dizer bisonho, curiosamente bisonho. Digo parte porque muitos não viram assim.
Joga pedra na Geni
A cidade está desmatada, não há calçamento, ruas esburacadas, não existem praças, e falar em arborização é virar motivo de galhofa. Em contrapartida, basta olhar, vemos uma população visivelmente gorda, e, portanto, doente. Numa cidade de arrecadação invejável, de PIB de primeiro mundo. Uma cidade precisa oferecer ruas agradáveis, praças receptivas, o povo precisa caminhar, bater pernas, andar faz bem, sim senhor.
Em Manaus é impossível. Ou possível com o risco de um tornozelo deslocado. Agreguemos um Sol implacável, sem quase nenhuma árvore que nos socorra. Estou falando das ruas, dos espaços públicos.
Estive recentemente em Rio Branco, no Acre. Há oito anos não a visitava. Lá, a cidade passou por um choque de humanização.
Ruas limpas, calçadas amplas, muita arborização, praças recuperadas e até o mercado municipal, até então parecido com o de Manaus atual, tudo uma beleza. Resultado: o povo passou a caminhar. Procurei me informar e tive a curiosa revelação; o atendimento nos hospitais foi reduzido substancialmente. Com isso, houve redução nos gastos públicos na esfera de saúde.
Até pensei: PT bom é o PT do Acre, porque no resto… bem, deixa pra lá…
Faça o que mando, mas…
Vejamos como o Amazonas é singular. Não o povo, que fique bem claro, mas suas lideranças. O governador busca sensibilizar, e afirma aos dirigentes da FIFA que tem recursos à sobra para sediar alguns jogos da próxima Copa do Mundo. Anuncia um estádio de ponta e, de sobra, um conjunto de obras e intervenções capazes de fazer inveja ao mais radical dos ambientalistas.
Tudo, garante o governador, será ecologicamente correto, e mostrará ao mundo -sim, é um evento global- que o estado do Amazonas está afinado e consciente de que o meio ambiente não pode ser violentado. Governador jovem, com projetos robustos, ótimo.
Pois bem, a Assembléia Legislativa, instituição nobre, cujos representantes têm o dever de zelar pela qualidade de vida da população, pelo menos hipoteticamente, onde o governo estadual tem maioria, destruiu uma das últimas áreas verdes da cidade para implantar um estacionamento monumental.
É o que dizem as fotos, os blogs, a imprensa, e os moradores. Por mais que não queiramos assim pensar, não deixa de ser emblemático, tristemente simbólico. Tudo isso, às almas mais sensíveis e atentas, bom, deixa pra lá…

◙ Edilson Martins é jornalista e escritor

Save the planet!

Um comentário:

Daniela Lima disse...

Ninguém pode com a Natureza... ela vem cobrar tudo c juros e correção monetária!! Não é assim que gostam os capitalistas???