13.5.07

palavras de um nativo americano

"Deixe-me te contar como perdemos a terra. Não era nossa terra, como se nos pertencesse. Era a terra onde caçávamos e onde nossos ancestrais estavam sepultados. Era a terra que o Criador nos havia dado. Era a terra onde aconteciam nossas histórias sagradas. Havia lugares sagrados nela. Nossas cerimônias se realizavam aqui. Conhecíamos os animais, eles nos conheciam também. Presenciamos o passo a passo das estações nesta terra. Estava viva, como nossos avós. Éramos parte dela. A terra era parte de nós. Nós nem sequer sabíamos o que significava ser proprietário da terra. Seria como dizer que você é proprietário de sua avó. Para nós, a terra estava viva. Mover uma pedra significava alterá-la. Matar um animal era tirar algo dela. Tinha que haver respeito. Nós não vimos respeito nessa gente. Cortavam as árvores e deixavam os animais mortos onde os matavam. Faziam ruídos fortes. Pareciam selvagens.

Essas pessoas cavalgavam pela terra e colocavam uma bandeira e logo diziam que tudo, desde onde haviam começado até onde colocavam a bandeira, lhes pertencia. Isso é como se alguém disparasse uma flecha no céu e dissesse que todo o céu até onde chegasse a flecha, lhe pertenceria. Nós pensamos que esta gente estava loca. Eles falavam de propriedade. Nós falávamos da terra.


Seus sacerdotes podiam tornar sagrados qualquer lugar, mas não podiam entender que sagrado para nós era o lugar onde estávamos, porque aí era onde aconteciam coisas sagradas e onde os espíritos nos falavam. Sua gente não sabia nada sobre o sagrado da terra. Vocês estavam matando a todos os animais. O búfalo havia desaparecido. As aves haviam desaparecido. Vocês não nos permitiam caçar.

Nos davam mantas e uísque, que enloquecia nossa gente. Vocês vieram à nossa terra e a tiraram de nós e nem sequer nos escutaram quando tentamos explicar. Fizeram promessas e romperam cada uma delas. Nos mataram sem tirar-nos a vida. Vocês nos tiraram os lugares onde os espíritos nos falavam e nos deram sacos de farinha.

Para nós, a terra estava viva. Ela nos falava. Nós a chamávamos nossa mãe. Se ela estava chateada conosco, não nos dava alimentos. Se nós não dividíamos com os demais, ela nos enviada invernos duros ou pragas de insetos. Tínhamos que fazer coisas boas por ela e viver da maneira que ela considerava apropriada.

Ela era a mãe de tudo o que habitava nela, portanto todos eram nossos irmãos. Os ossos, as árvores, as plantas, o búfalo. Todos eram nossos irmãos e irmãs. Se não lhes tratávamos bem, nossa mãe ficava chateada. Se lhes tratávamos com respeito e honra, ela se sentia orgulhosa.

Para sua gente a terra não estava viva. Era algo assim como um cenário onde podiam construir coisas e fazer coisas. Viam o lodo, as árvores e a água como coisas importantes, mas não como irmãos e irmãs. Essas coisas exitiam só para ajudar os humanos a viver.

Vocês tomaram a terra e a converteram em propriedades. Agora nossa mãe está em silêncio. Mas ainda tentamos ouvir sua voz".

Trecho do livro "Ni Lobo ni Perro. Por Senderos Olvidados con un Anciano Indio", de Kent Nerburn.
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10.5.07

Iemanjá e a sujeira dos homens ao mar...


Iemanjá irrita-se com a sujeira que os homens lançam ao mar...

Logo no princípio do mundo, Iemanjá já teve motivos para desgostar da humanidade. Pois desde cedo os homens e as mulheres jogavam no mar tudo o que a eles não servia. Os seres humanos sujavam suas águas com lixo, com tudo o que não mais prestava, velho ou estragado. Até mesmo cuspiam em Iemanjá, quando não faziam coisa muito pior.
Iemanjá foi queixar-se a Olodumaré. Assim não dava pra continuar. Iemanjá vivia suja, sua casa estava sempre cheia de porcarias. Olodumaré ouviu seus reclames e deu-lhe o dom de devolver à praia tudo o que os humanos jogassem de ruim em suas águas.
Desde então, as ondas surgiram no mar. As ondas trazem para a terra o que não é do mar.
*
Trecho extraído do livro "Mitologia dos Orixás", de Reginaldo Prandi.
Legal, né?
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